Brasil abandona Aliança Internacional para a Memória do Holocausto, alegando ‘restrições legais’

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A retirada do Brasil do órgão de memória do Holocausto gera indignação entre autoridades israelenses e da IHRA, que alertam para a politização da memória do Holocausto
O Brasil anunciou sua retirada da Aliança Internacional para a Memória do Holocausto, onde mantinha status de observador, citando limitações legais e preocupações relacionadas à guerra em Gaza.

 

A decisão foi comunicada em carta diplomática à sede da IHRA em Berlim. Autoridades brasileiras afirmaram não ter condições de pagar as anuidades devido a restrições legais e citaram um parecer do assessor jurídico do Itamaraty e uma recomendação da Relatora Especial da ONU para Direitos Humanos, Francesca Albanese. Embora a carta não chegasse a culpar diretamente a guerra de Israel em Gaza, as autoridades estabeleceram uma ligação clara entre a memória do Holocausto e o conflito atual.

A medida segue a decisão do Brasil de apoiar o caso de genocídio da África do Sul contra Israel na Corte Internacional de Justiça (CIJ) em Haia. Nesse caso, Israel é acusado de cometer genocídio em Gaza. Há cerca de um ano e meio, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que os palestinos estavam enfrentando condições sem precedentes na história, “exceto quando Hitler decidiu matar os judeus”.
O anúncio surpreendeu as autoridades israelenses e os líderes da IHRA. Dani Dayan, presidente do Yad Vashem e atual presidente da IHRA, considerou isso sem precedentes.
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“Esta é a primeira vez que um país ocidental subordina a memória do Holocausto a considerações políticas”, disse Dayan. “É um grave cruzamento de uma linha vermelha. O Brasil está essencialmente se afastando do compromisso da comunidade internacional com a memória do Holocausto.”

Em carta urgente ao Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, a liderança da IHRA expressou preocupação. “As justificativas apresentadas — o parecer jurídico do Itamaraty e a recomendação do relator da ONU — levantam sérias preocupações que exigem esclarecimentos urgentes”, escreveram.

A IHRA enfatizou que sua missão está enraizada no consenso internacional pós-Segunda Guerra Mundial e reforçada por inúmeras declarações da ONU. A organização trabalha para preservar a memória do Holocausto, promover a educação e a comemoração, e combater a negação do Holocausto e o antissemitismo.
“Insinuar que o trabalho da IHRA contradiz os padrões de direitos humanos ou os princípios legais não tem fundamento e pode minar o compromisso global de garantir que os horrores do Holocausto nunca se repitam”, disse o grupo.
Líderes da IHRA instaram o Brasil a esclarecer suas preocupações e se ofereceram para abordá-las por meio de um diálogo direto. Observaram que o Brasil tem sido um parceiro valioso nos esforços para combater o antissemitismo e preservar a memória do Holocausto e expressaram a esperança de que a retirada não reflita uma mudança mais ampla.
A IHRA inclui 35 Estados-membros, nove países observadores e nove organizações internacionais. Outras nações críticas à política israelense, incluindo Noruega e Irlanda, permanecem membros ativos.

Fonte: Ynetnews

( Foto: EVARISTO SA/ AFP )